(in. Illusion; fr. Illusion; al. Illusion; Ilusionè).
Aparência errônea, que não cessa ‘o quando reconhecida como tal; p. ex., como quebrado o bastão imerso na água. É a antiga, que remonta aos epicuristas (Diógenes Laércio, X, 51) e se repete com frequência em tempos recentes, que as ilusão não pertencem aos sentidos, mas ao juízo feito sobre o dado sentido. Contudo, essas considerações hoje têm menos importância, pois nem a filosofia nem a psicologia acham útil fazer uma distinção nítida entre dados sensíveis e funções intelectuais. Kant definiu a ilusão como “o jogo que persiste mesmo quando se sabe que o objeto pressuposto não é real” (Antr., § 13). E nesse sentido, considerou atividade dialética da razão como ilusão “Em nossa razão (considerada subjetivamente como faculdade cognoscitiva humana) existem normas e típicos de uso que têm todo o aspecto de princípios objetivos: por isso acontece que a necessidade subjetiva de que haja certa conexão dos nossos conceitos, em virtude do intelecto, seja considerada necessidade objetiva de determinadas das coisas em si mesmas. ilusão que não pode ser evitada, assim como não é possível evitar que o meio do mar pareça mais alto que na praia porque nós o vemos lá através de raios que são mais elevados que os daqui; assim como o astrônomo não pode impedir que a lua lhe pareça maior ao surgir, mesmo que não se deixe enganar por esta aparência” (Crít. R. Pura, Dialética, Intr., I). As qualificações “natural” e “inevitável” que Kant atribui à ilusão transcendental, mas que são atribuíveis a qualquer ilusão, só fazem expressar o caráter fundamental da ilusão pelo qual, ao contrário do erro, não deixa de existir mesmo ao ser identificada como ilusão [Abbagnano]
A (mera) ilusão consiste em que os dados dos sentidos ou também do pensamento são de condição tal que podem sugerir um juízo falso; o objeto ou conteúdo objetivo enunciado neste juízo “parece” existir, embora na realidade não exista. A ilusão sensorial consiste em que a percepção apresenta o objeto de maneira diferente do que ele é; a ilusão conceptual (lógica) estriba, as mais das vezes, num parentesco ou semelhança de conceitos, que, devido a uma atenção defeituosa, com facilidade são falsamente equiparados. Em muitos casos a ilusão sensorial surge de acordo com leis, motivada pelos estimulantes exteriores, de sorte que para o observador experimentado não há perigo de engano (fenômeno). Em tal caso, não se fala de engano dos sentidos (mera ilusão em sentido estrito); este só se verifica, quando as impressões sensoriais são de algum modo falsificadas por influxo da fantasia. A ilusão converte-se em percepção enganadora quando, devido à mescla dos elementos representativos, aparecem objetos que possuem natureza diferente da natureza correspondente aos objetos realmente existentes (ilusão) ou mesmo meras representações da fantasia adquirem a vivacidade de uma percepção e, desse modo, fingem coisas que, em geral, não existem (alucinação). Há engano em sentido próprio, só quando o homem se deixa induzir, por ilusão, a um juízo falso.
Ilusionismo é a opinião, segundo a qual tudo ou quase tudo o que geralmente se julga real é só ilusão; não é mais que ceticismo. De modo idêntico, a, filosofia do como-se (Alsob Philosophie) (o ficcionalismo) de Hans Vaihinger supõe que todo conhecimento humano conta de ficções; contudo muitas destas ficções são recomendadas como estimuladoras da vida (pragmatismo). — De Vries. [Brugger]
Em filosofia emprega-se o termo ilusão vinculando-o com o problema do equívoco dos sentidos. Não se trata de dilucidar se os sentidos enganam sempre ou não; se os sentidos enganaram sempre e, por outro lado, não houvesse qualquer outro critério que não fosse o dos sentidos para formular juízos considerados verdadeiros, não poderia falar-se de ilusão.
Origina-se este conceito quando se observa que os sentidos podem enganar pelo menos uma vez. Então pergunta-se se não será melhor desconfiar dos sentidos de um modo metódico. Há numerosos exemplos desta desconfiança na história da filosofia; a distinção, estabelecida pelos filósofos gregos, entre realidade e aparência está em parte fundada na desconfiança na percepção sensível. O “mundo da aparência” é o “mundo da ilusão”. Deste mundo só existem opiniões (Parmênides, Platão)e não verdades.
Isto não significa forçosamente que o mundo da ilusão seja declarado inexistente. Mais é de eliminá-lo, trata-se de explicar como se produz a ilusão e de dar razão dela. Este é o sentido da famosa expressão platônica “salvar as aparências” (ou as ilusões) porque o mundo da ilusão não é o real, mas tão pouco é imaginário. A ilusão não desaparece, continuamos a ver o bastão quebrado dentro da água e recto fora dela, mas tenta-se mostrar em que fundamenta este engano e qual é a realidade. Gilbert Ryle indicou que os argumentos produzidos com o fim de depreciar ou menosprezar toda a percepção carecem de sentido, visto que se fundamentam na suposição incomprovável de que “tudo é falível”. Mas quaisquer coisa só é falível se houver qualquer coisa que não o for. A moeda falsa só o é em relação à autêntica. Os defeitos dos sentidos não permitem concluir que os sentidos não sejam capazes de compreender adequadamente; na verdade, os sentidos são defeituosos na medida em que têm a possibilidade de compreender adequadamente.
A dificuldade consiste em se pode estabelecer-se um critério não sensível para determinar o caráter adequado ou inadequado das percepções sensíveis. Muitos filósofos modernos têm tratado de mostrar que os critérios estabelecidos para o efeito são aceitáveis. Assim sucedeu com Descartes, com Locke e com todos os filósofos que distinguiram entre qualidades primárias e secundárias. A possível ilusão causada pelos sentidos deve-se, segundo estes filósofos, ao fato dos sentidos só perceberem as qualidades secundárias, mas isto por sua vez não significa que a percepção das qualidades secundárias seja sempre enganadora. Simplesmente as coisas aparecem de modo diferente ao que realmente são e o seu ser está constituído por realidades primárias.
Kant distinguiu entre ilusão e aparência. a verdade ou a ilusão não estão, segundo Kant, no objeto, mas no juízo sobre ele. Daqui que os sentidos não possam errar porque não podem julgar. Há vários tipos de ilusões: empíricas, lógicas e transcendentais. As ilusões empíricas produzem-se quando a imaginação desencaminhou a faculdade do juízo; podem-se corrigir quando se empregam corretamente as regras do entendimento no seu uso empírico. As ilusões lógicas produzem-se por mentiras; engendras a falta de atenção às regras lógicas e podem ser eliminadas prestando a devida atenção a tais regras. As ilusões transcendentais produzem-se quando se vai “mais além” do uso empírico das categorias, quer dizer, quando se tenta aplicar as categorias a “objetos transcendentes” (CRÍTICA DA RAZÃO PURA). Estas últimas encontram-se tão arreigadas que são muito difíceis de desmascarar. Uma vez que a dialéctica se define como “lógica da ilusão”,o estudo das ilusões transcendentais é levado a cabo na “dialéctica transcendental “, a qual se contenta com pôr a descoberto a ilusão dos juízos transcendentes em vez de tomar precauções para não serem enganados por ela. Esta ilusão é natural e inevitável, visto que se apoia em princípios subjetivos que aparecem como se fossem objetivos. [Ferrater]