vantagem

Sócrates: Mas diz-me: o médico, no sentido rigoroso, que há pouco definias, é seu objetivo ganhar dinheiro ou tratar os doentes? Refere-te ao médico de verdade./ Trasímaco: Tratar os doentes, respondeu./ Sócrates: E o piloto? O piloto como deve ser, é chefe dos marinheiros ou marinheiro?/ T: É chefe dos marinheiros./ S: Não é preciso tomar em linha de conta para nada o fato de ele estar embarcado no navio; não é por isso que se deverá chamar-lhe marinheiro, pois não é pelo fato de ele navegar que se lhe chama piloto, mas pela sua arte e pelo comando dos marinheiros./ (…) S: E a sua arte foi feita para procurar e fornecer a cada um o que lhe convém?/ T: Foi./ S: Cada uma das artes tem qualquer outra vantagem, para além da maior perfeição possível?/ T: Que queres dizer com a tua pergunta?/ S: Por exemplo: Se me perguntasses se ao corpo basta ser corpo, ou se tem necessidade de alguma coisa, eu respondería: ‘Tem necessidade absoluta. E por isso é que se inventou agora a arte da medicina, porque o corpo é sujeito a defeitos, e de tais defeitos carece de ser curado. Para lhe fornecer o que lhe é vantajoso, para isso é que se concertou essa arte’. Parece-te que é certo o que estou a dizer, ou não?/ T: É – confirmou ele./ (…) S: Portanto – disse eu – a medicina não procura a conveniência da medicina, mas a do corpo. (…) Nem a equitação a da equitação, mas a dos cavalos. Nem nenhuma outra arte a sua, pois de nada carece, mas a daquele a quem pertence./ T: Assim parece./ S: Mas, então, ó Trasímaco, as artes governam e dominam aquele a quem pertencem? (…) Portanto, nenhuma ciência procura ou prescreve o que é vantajoso ao mais forte, mas sim ao mais fraco e ao que é por ela governado” [República, Livro I]