Classe social [DSBoudon]: O termo é utilizado, num sentido geral, para designar todo o conjunto de indivíduos que manifestam características e comportamentos idênticos ou comparáveis. Em sentido restrito, a classe opõe-se às castas, estados ou ordens, marcados pela transmissão hereditária e uma fraca ou nula mobilidade social.
Designando as grandes linhas das divisões sociais, o termo “classe” levanta questões essenciais concernentes à natureza dos grupos assim designados e das suas relações. Por isso, as teorias sociológicas não deixaram de trazer definições divergentes, que correspondem às suas concepções próprias. A obra de Marx é exemplar de uma concepção da classe social que pode qualificar-se de “realista” (Aron 1966). Em ‘O Capital’, faz da relação de propriedade a relação social determinante que opõe, no modo de produção capitalista, os proprietários dos meios de produção e os proletários detentores unicamente da sua força de trabalho. Entre estas duas classes essenciais, a classe média seria chamada a regredir em número e em importância política à medida do desenvolvimento da indústria e da intensificação da luta de classes. A classe é assim de definida como o conjunto dos agentes colocados nas mesmas condições no processo de produção. Marx não duvidava de que a luta econômica devesse transformar-se em luta política e numa revolução social que provoque o afundamento do modo de produção capitalista e o desaparecimento das classes.
A partir de 1831, Alexis de Tocqueville, estudando a evolução da sociedade americana, descobria, pelo contrário, um aumento da mobilidade social, a extensão do individualismo, a regressão dos fenômenos de classe (Tocqueville 1835).
M. Weber opõe à concepção realista de Marx a crítica que ele próprio formula a respeito de toda a transformação dos colectivos em entidades, em sujeitos. A classe social não poderá ser confundida com uma realidade subjectiva que prossiga objetivos, nem mesmo com uma comunidade efetiva. Fiel a este princípio, Weber propõe a análise não da classe considerada como uma realidade mas a “situação de classe”, ou seja, a probabilidade, a possibilidade, para indivíduos, de manifestar interesses similares, de possuir, por exemplo, um monopólio positivo ou negativo. Nesta perspectiva, o conceito de classe designa apenas o conjunto das pessoas que se encontram na mesma situação ou em condições comparáveis. Outros agrupamentos podem ser também socialmente importantes, tais como os conjuntos de estatutos, as comunidades ou os agrupamentos profissionais.
Entre estas duas posições opostas, realista e nominalista, numerosíssimas pesquisas teóricas propuseram que se definissem as classes segundo critérios opostos de diferenciação: a divisão do trabalho social, por exemplo, o nível dos rendimentos, a desigualdade de detenção dos poderes, os tipos de vida, os comportamentos culturais, ou ainda as diferenças na hierarquia dos prestígios. Também se propôs a diferenciação segundo os sexos, retendo o termo “classe sexual” (Balandier 1974).
Estas diferentes concepções das classes sociais distinguem-se assim pelo tipo de fenômenos que consideram como o mais importante para diferenciar esses agrupamentos.
Uma concepção estruturalista do espaço social, que estuda os fenômenos de reprodução das posições sociais e das desigualdades, propõe-se analisar os mecanismos e as estratégias de renovação das classes na sua hierarquia e na sua distinção (Bourdieu 1979). A este estruturalismo genético atribuir-se-á também a tarefa de desvendar as estratégias pelas quais os agentes de diferentes classes, portadores da sua cultura de classe, renovam as diferenças e as distinções que os separam e os hierarquizam. Neste sentido, as classes sociais são definidas como o lugar das determinações essenciais dos comportamentos, dos modelos de percepção e de ação de todos os agentes sociais.
Uma concepção dinâmica das sociedades globais que considera a sociedade como um sistema de ação (Touraine 1973) propõe que se oponha a classe dirigente e as classes dirigidas. Numa tal concepção, a classe social encontra-se definida pelas relações de poder, pelos meios de gestão, dos quais ela será o ator ou o objecto. A classe é então definida pelo lugar que ocupa no sistema de ação.
Uma concepção resolutamente individualista da sociologia (Boudon 1979) apela a que se tomem como princípio de explicação as condutas individuais e as próprias razões dos indivíduos. Numa tal perspectiva, interrogar-nos-emos sobre os efeitos das posições nas opções individuais, mas repudiando toda a concepção “realista” da classe. [Pierre Ansart, DSBoudon]