mediocridade

Oh, somos uns medíocres, somos o bem e o mal numa mistura surpreendente, somos adeptos da Ilustração e de Schiller, e ao mesmo tempo andamos pelas tavernas fazendo arruaças e arrancando o cavanhaque de tipinhos bêbados, nossos companheiros de copo. Oh, também somos bons e magníficos, mas só quando nós mesmos nos sentimos bem e magnificamente. Ao contrário, somos até dominados – precisamente dominados – pelos mais nobres ideais, mas só sob a condição de que eles sejam atingidos por acaso, que nos caiam do céu sobre a mesa e, principalmente, que sejam gratuitos, gratuitos, que nada paguemos por eles. Abominamos pagar, mas em compensação gostamos muito de receber, e isso em todos os sentidos. Oh, dai-nos, dai-nos todos os bens possíveis da vida (precisamente todos os possíveis, menos não aceitamos) e sobretudo não imponhais obstáculo ao nosso direito ao que quer que seja, e então demonstraremos que também podemos ser bons e magníficos. Não somos cobiçosos, não, mas, não obstante, dai-nos dinheiro, mais, mais, e quanto mais for possível, e vereis com que magnanimidade, com que desdém pelo vil metal nós o esbanjaremos em uma noite num rega-bofe desenfreado. E se o negardes, nós mostraremo como somos capazes de consegui-lo quando o queremos muito. [VI. O DISCURSO DO PROMOTOR. TÓPICOS; Dostoievski, Fiodor. Os Irmãos Karamázov. Tr. Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2012 (ebook)]