ser aí

(in. There-being ou Beingthereness; fr. Réalité-humaine; al. Dasein).

O termo alemão, que é o originário, começa a ser usado no séc. XVIII. Em italiano, o termo esserci é usado por Spaventa (Princ. di fil, 1867, p. 134) para traduzir o correspondente termo hegeliano e, em inglês, There-being foi usado por Stirling em Segredo de Hegel (1865) para traduzir o mesmo termo. Beingthereness, em inglês, e Realité-humaine, em francês, são usados hoje para traduzir o significado existencialista do termo. Ele significa, na origem, existência real, tanto das coisas finitas quanto a de Deus. Nesse sentido, é empregado por Kant (Crítica da Razão Pura, Anal., II, cap. 2, seção 3, 4): “No simples conceito de uma coisa não se pode encontrar nenhum caráter de sua existência real (Dasein). Porque, ainda que ele seja tão completo que nada lhe falte para pensar o objeto com todas as suas determinações internas, a existência real nada tem a ver com isso, mas só com a questão de que uma coisa nos é dada, de tal modo que a percepção dela possa sempre preceder o seu conceito”. Nesse sentido, para Kant, é a segunda das categorias da modalidade e opõe-se ao não-ser (Ibid., § 10). Usando essa palavra no mesmo sentido, Jacobi dizia que a filosofia tem a tarefa de desvendar e revelar a existência (Werke, IV, p. 72). Hegel fazia a distinção entre o Dasein, como simples determinação do ser, e a existência, que é o ser em relação. Diz: “Etimologicamente, Dasein é estar em determinado lugar, mas a representação espacial não vem ao caso. O Dasein, ou ser determinado, é em geral, em conformidade com seu devir, um ser com um não-ser, de tal modo que esse não-ser está reunido em unidade simples com o ser” (Wissenschaft der Logik, 1,1, seção I, cap. 1, A; trad. it., p. 109). Em palavras mais simples, o Dasein é o ser com determinado caráter ou qualidade, aquilo que se chama em geral de “alguma coisa” (Enc., § 90). Mas, no uso filosófico contemporâneo, essa palavra ingressou com o significado atribuído pelo existencialismo, sobretudo por Heidegger, que a usou para designar a existência própria do homem. “Esse ente, que nós mesmos sempre somos e que, entre as outras possibilidades de ser, possui a de questionar, designamos com o termo Dasein.” (Sein und Zeit, § 2). Assim entendido, o ser-aí possui um “primado ôntico”, no sentido de que deve ser interrogado primeiramente, e um “primado ontológico”, porquanto a ele pertence originariamente certa compreensão do ser: por isso, ele é também o fundamento de qualquer ontologia (Ibid., § 4). Na filosofia contemporânea, esse termo é habitualmente usado no significado específico estabelecido por Heidegger, como ser do homem no mundo. Jaspers usa-o nesse sentido (Phil, I, 6 ss.). Com significação semelhante, foi usado por Husserl, que com ele designa a existência da consciência, considerada privilegiada porque necessária: “Na essência de um eu puro, em geral, e de uma vivência em geral funda-se a possibilidade ideal de reflexão que tem o caráter de evidente e inextinguível tese do ser-aí” (Ideen, I, § 46). [Abbagnano]