Apreender significa apanhar, tomar, e a apreensão do ponto-de-vista lógico é o ato pelo qual o espírito concebe uma ideia, sem nada afirmar ou negar. A apreensão difere então do juízo, que, veremos, consiste em afirmar ou negar uma coisa de uma outra. [Jolivet]
4. Apreensão sensível ou intelectual, é isso mesmo que a palavra diz: aprisionamento do que quer que se deixe aprisionar, apossar-se de todas ou do maior número de coisas, que, por [91] malicia diabólica, fingem de dóceis, esperando a oportunidade, que nunca tarda, de se apossarem elas de quem pretendeu possuí-las. Pobres, mas não de espírito (ou precisamente, propriamente, de espírito?), que não se apercebem da armadilha aberta a seus pés! Quando mais estilhas desse Mundo que o Diabo estourou vierem amontoar-se no alforje que carrego acima dos ombros, mais se me empecem os passos que teria de andar até o ponto de onde se avista, em sua integridade, o «antes que a bomba estourasse». E a vontade, que, no máximo, é sempre vontade de poder, pelo próprio poder? Foi essa a última tentação do Cristo, e a mais difícil de repelir. Mas a vontade nasce no paroxismo da apreensão. Não quis Rogério Bacon propalar que potência e ciência vão a par? Só faltou identificá-las uma à outra, e ambas, com a dimensão diabólica do ser Humano, do «homem–humano». Apreender, ou querer uma ou mais «coisas», é o primeiro passo de quem ponha sua alma à venda. E o Diabo comprá-la-á por qualquer preço, seja ele tão alto quanto pretendamos que valha. Já dissemos quanto o Demo é rico, desde que no «homem–humano» delegou seus poderes. Daí por diante, sempre este pagou, sempre este paga, sempre este pagará. Agora são os outros, os meus «semelhantes», que tentarão comprar minha alma a qualquer custo. A minha adesão a uma ideologia já não é preço módico. Menos ainda, a minha profissão de fé, seja ela no valor da ciência, da tecnologia, da arte, de qualquer seita religiosa, de um partido político, de um sistema filosófico, de uma sabedoria oculta, e assim por diante. [EudoroMito:91-92]