1. O método depende do objeto formal. — Chamamos “método” o conjunto de processos a empregar para chegar ao conhecimento ou à demonstração da verdade. O método de uma ciência depende do objeto mesmo desta ciência. Não se emprega, no estudo dos seres vivos, os mesmos processos que no estudo dos seres inorgânicos, e a química procede diversamente da física. Desta forma, é da definição e do objeto da filosofia que nós devemos deduzir o método que lhe convém.
2. O método filosófico é a um tempo experimental e racional. — Nós definimos a Filosofia como a ciência das coisas por suas causas supremas. Daí se segue que:
a) A filosofia parte da experiência. Se a Filosofia é de início “ciência das coisas”, a saber, do homem, do mundo e de Deus, devemos começar por conhecer as coisas que queremos explicar; isto é, nosso ponto de partida será normalmente tomado na experiência. É de fato pelas propriedades das coisas que nós podemos conhecer sua natureza e, estas propriedades, é a experiência — vulgar ou científica — que nos faz descobri-las. É também pelos efeitos do poder divino que podemos elevar-nos até à Causa primeira do Universo, seja para afirmar a sua existência necessária, seja para determinar-lhe a natureza e os atributos, e estes efeitos são ainda um objeto de experiência. Assim, o método filosófico será primeiramente experimental, no sentido de que o ponto de partida da Filosofia é tomado na experiência.
b) A Filosofia visa, pela razão, ao que está além da experiência, Mas como a Filosofia é, por seus fins, essencialmente metafísica, isto é, quer ir além da experiência sensível e chegar até às causas primeiras, deverá fazer apelo à razão, porque, estas causas primeiras, o homem não as vê e não as toca com os seus sentidos, e não as pode então atingir a não ser por uma faculdade superior aos sentidos. Eis por que o método filosófico é também um método racional.
3. A Filosofia usa apenas a razão natural. — De outro lado, se a Filosofia se serve da razão, é unicamente da razão natural. Nisto ela se distingue absolutamente da Teologia, que se apoia, como sobre seus primeiros princípios, nas verdades reveladas, enquanto a, Filosofia apela unicamente às luzes da razão. Seu critério de verdade não é, como em Teologia, a autoridade de Deus revelador, mas a evidência de seu objeto. [Jolivet]