anapodítico

(gr. anapodeiktos; lat. indimostrativus; in. Anapodeictic; fr. Anapodictique; al. Anapodiktisch; it. Anapoditticó).

Literalmente: não demonstrável. Aristóteles assim chamou as premissas primeiras do silogismo que ele dizia também serem imediatas (Et. Nic, VI, 12, 1.143 b 12; An.post., I, 2, 72 b 27, etc). Mas a teoria dos raciocínios anapodíticos foi desenvolvida pelos estoicos precisamente por oposição â teoria silogística de Aristóteles. Enquanto os silogismos ou raciocínios apodíticos extraem uma conclusão não evidente de premissas evidentes, os raciocínios anapodíticos têm uma conclusão evidente e são a base de todos os outros raciocínios que possam ser reduzidos a eles (Sexto Empírico, Pirr. hyp., II, 156; cf. Cícero, Top., 56-57). Os estoicos enumeravam cinco tipos fundamentais de raciocínios anapodíticos e julgavam que a eles poderiam ser reduzidos todos os outros raciocínios; daí Sexto Empírico dizer que, afastados esses, toda a dialética cairia por terra. Eis como se exemplificavam esses tipos fundamentais: 1) Se é dia, há luz. Mas é dia. Logo há luz. 2) Se é dia, há luz. Mas não há luz. Logo não é dia. 3) Se não é dia, é noite. Mas é dia. Logo não é noite. 4) Ou é dia ou é noite. Mas é dia. Logo não é noite. 5) Ou é dia ou é noite. Mas não é noite. Logo é dia (Pirr. hyp., II, 157-58; Dióg. L., VII, 80). Adotando esses raciocínios como fundamento da dialética, da própria arte de raciocinar, os estoicos reduziam ao raciocínio anapodítico hipotético ou disjuntivo, que é sempre de dois termos, qualquer outra espécie de raciocínio, negando implicitamente que tivesse valor autônomo o raciocínio demonstrativo de três termos, isto é, o silogismo aristotélico.

Como sinônimo do termo, Leibniz usou assilogístico, para indicar um tipo de raciocínio não silogístico. “É preciso saber”, disse ele, “que há consequências assilogísticas boas, que não poderiam ser demonstradas a rigor com um silogismo sem trocar um pouco os termos; e essa mesma mudança dos termos faz que a consequência seja assilogística”. P. ex.: “Jesus Cristo é Deus, logo a mãe de Jesus Cristo é a mãe de Deus”; ou então: “Se Davi é o pai de Salomão, Salomão é filho de Davi” (Nouv. ess., IV, 17, 4). [Abbagnano]