teoria aristotélica da inteligência

Como o conjunto de sua psicologia, manifesta-se a doutrina do conhecimento em Aristóteles como uma via média entre o sensualismo materialista, representado na antiguidade por Demócrito, e o intelectualismo extremo, iniciado por Platão. Eis como Tomás de Aquino considera na Summa esta tomada de posição (S. Th. Ia Pa, q. 84, a. 1 e 6).

Para Demócrito, todos os nossos conhecimentos resultam da impressão que as partículas emanadas dos corpos causam em nossa alma; no fundo, equivale a dizer que a inteligência não se distingue dos sentidos. Para Platão, ao contrário, não somente a inteligência se manifesta como uma potência original, mas ainda se deve afirmar que é, em sua atividade, absolutamente independente de todo órgão corporal; de onde se segue que os dados desta faculdade procedem de uma fonte transcendente, pois o incorpóreo não pode ser afetado pelo corpóreo.

Entre estes dois extremos, adota Aristóteles uma posição de conciliação assim caracterizada por Tomás de Aquino: com Platão, admite Aristóteles que a inteligência é diferente dos sentidos; com Demócrito, que as operações da parte sensível da alma são causadas pela impressão dos corpos externos, não todavia como este o queria, a saber, por um transporte de partículas. Quanto às operações da parte intelectual, é preciso dizer que exigem, para serem produzidas, o concurso simultâneo das sensações, nas quais estas operações encontram seu dado, e o concurso de uma potência espiritual ativa, o intelecto agente que tem por função abstrair do sensível o inteligível que, naquele, estava contido em potência. Teremos ocasião de voltar mais demoradamente a estas análises. Baste-nos aqui reter que a “via Aristotelis” era vista por Tomás de Aquino como uma solução intermediária entre o sensualismo e o intelectualismo extremos.

De fato, aparecendo como ganha a causa da existência de um modo de conhecer superior às sensações, serão as filosofias do conhecimento de Aristóteles e Tomás de Aquino antes uma reação contra o que o intelectualismo platônico parecia ter de excessivo. O fundo no qual se destaca nosso estudo será constituído principalmente pelas doutrinas deste intelectualismo vistas, em Tomás de Aquino, através da adaptação feita por Agostinho, enquanto o sensualismo será visado secundariamente. Não se deve aqui esquecer que os mestres de outrora não podiam se referir a uma obra multiforme e abundante como hoje a dos psicólogos contemporâneos. Portanto, muita prudência nas comparações e nas aproximações. [Gardeil]