Segundo sua significação original, o verdadeiro está na inteligência ou na potência de conhecer na medida em que esta se conforma à coisa. Mas aqui dois casos podem se apresentar: ou a inteligência, mesmo estando conforme à coisa, não o sabe, o que se produz na simples intelecção e no conhecimento sensível; ou minha inteligência, graças ao seu poder de reflexão, se apreende a si mesma como conforme ao seu objeto, o que se realiza no juízo. O verdadeiro está então em minha inteligência, como conhecido, o que é evidentemente mais perfeito do que quando aí se encontra sem que se saiba. Tomás de Aquino exprime perfeitamente esta doutrina neste texto (Ia Pa. q. 16, a. 2):
“… A verdade é definida pela conformidade da inteligência e da coisa. Segue-se daí que conhecer esta conformidade é conhecer a verdade. O que os sentidos não conseguem de modo algum realizar. A vista, com efeito, se bem que possua em si a similitude do que é visto, não percebe entretanto de modo algum a relação que existe entre essa coisa vista e o que ela conhece. Pelo contrário, a inteligência pode conhecer a conformidade que possui em relação à coisa conhecida; todavia não a capta na sua simples apreensão das essências, mas somente quando julga que a coisa é conforme à forma que apreende; então, pela primeira vez, conhece e diz o verdadeiro… A verdade em consequência pode bem se encontrar no sentido ou na inteligência enquanto conhece a natureza das coisas, da mesma maneira que em uma coisa verdadeira, mas não como o que é conhecido no cognoscente, o que implica o termo vero. Ora, a perfeição da inteligência se encontra no vero enquanto este é conhecido. De modo que, propriamente falando, a verdade está na inteligência que compõe e que divide, e não no sentido, nem na inteligência como faculdade da simples apreensão do que é uma coisa… ideo proprie loquendo veritas est in intelectual componente et dividente, non autem in sensu, neque in intelectual cognoscente quod quid est.” [Gardeil]