O objeto principal da lógica é o raciocínio, sendo que as outras operações do espírito são consideradas sobretudo enquanto componham os elementos deste último. Porém o raciocínio pode ser considerado sob dois pontos de vista diferentes. Consideremos, com efeito, este silogismo:
Tudo que é imaterial é imortal.
Ora, a alma é imaterial.
Logo a alma é imortal.
Para que este raciocínio seja justo, é necessário que a ordem das proposições que o compõem (sua forma) seja correta. É necessário, em segundo lugar, que cada uma de suas proposições tomadas à parte (sua matéria) seja logicamente verdadeira. Haverá, portanto, condições formais e condições materiais quanto à exatidão de um raciocínio. O próprio Aristóteles consagrou esta distinção tratando em dois livros diferentes, os Primeiros e os Segundos Analíticos, destas duas ordens de condições. S. Tomás, por sua vez, a retoma, justificando-a da seguinte maneira:
“… a certeza do julgamento que se obtém ao termo de um processo resolutivo depende, seja tão somente da forma do silogismo, e é disto que se ocupa o livro dos Primeiros Analíticos, que tem como objeto o silogismo considerado em si; seja, por outro lado, do fato de que , se lida com proposições evidentes por si mesmas e necessárias em sua matéria, e é disto que se ocupa o livro dos Segundos Analíticos, que trata do silogismo demonstrativo.”
Em seguida, como já o dissemos, aplicou-se esta distinção a toda a lógica, inclusive à da simples apreensão e à do julgamento. Tal extensão nos parece contestável. Se é certo, com efeito, que o raciocínio comporta condições de verdade formais e materiais distintas, se é certo que se pode, ainda, discernir no julgamento, como o próprio S. Tomás o observa, essas duas ordens de condições, – não se pode conceber que se aplique tal distinção a simples termos. A distinção de lógica formal e lógica material não tem, portanto, uma aplicação universal, e praticamente é melhor, seguindo os passos de Aristóteles, não levá-la em conta, senão no tocante ao estudo do raciocínio.
Os autores que generalizaram essa distinção de lógica formal e lógica material frequentemente denominam a primeira Lógica Menor e a segunda Lógica Maior. Na realidade essa divisão pretende sobretudo responder a uma questão de dificuldade dos problemas tratados, sendo portanto, de ordem pedagógica. Os problemas da Lógica Menor seriam mais simples e mais fáceis de compreender do que os que se reservavam para a Lógica Maior. Esse cuidado de guardar para mais tarde as questões mais árduas teve, como resultado, sobrecarregar a Lógica Maior de discussões metafísicas, por isso mesmo completamente deslocadas num esquema de lógica. [Gardeil]