O psicologismo contra o qual Husserl luta identifica sujeito do conhecimento e sujeito psicológico. Afirma que o juízo “essa parede é amarela” não é uma proposição independente de mim, que o expresso e percebo essa parede. Diremos que “parede”, “amarela” são conceitos definíveis em extensão e em compreensão independentemente de todo pensamento concreto. Será, pois, necessário conferir-lhes uma existência em si, transcendente ao sujeito e ao real? As contradições de realismo das ideias (platônico por exemplo) são inevitáveis e insolúveis. Mas, se ao menos admitimos o princípio de contradição como critério para a validade de uma tese (no caso platônica), não estaremos afirmando a independência em relação ao pensamento concreto? Passamos assim do problema da matéria lógica, o conceito, ao problema de sua organização, os princípios. Mas o psicologismo não se rende nesse ponto. Quando o lógico supõe que duas proposições contrárias não podem ser verdadeiras simultaneamente ele está apenas exprimindo que me é impossível de fato, no nível do vivido pela consciência, acreditar que a parede seja amarela e verde. A validade dos grandes princípios funda-se sobre minha organização psíquica, e se são indemonstráveis é porque são inatos. Disto decorre evidentemente que não existe enfim verdade independente dos passos psicológicos que a ela conduzem. Como poderei saber se meu saber se adequa a seu objeto, como o exige a concepção clássica de verdadeiro? Qual é o sinal de sua adequação? Necessariamente, um determinado “estado de consciência” pelo qual qualquer indagação sobre o objeto do qual existe saber se mostra supérfluo: a certeza subjetiva.
Assim, o conceito era algo vivido, o princípio uma condição contingente do mecanismo psicológico, a verdade uma crença coroada de êxito. Sendo o próprio saber científico relativo à nossa organização, nenhuma lei poderia ser considerada absolutamente verdadeira mas tão-somente uma hipótese em via de verificação sem fim, a eficácia das operações (pragma) que ela torna possíveis definia sua validade. A ciência teceria portanto uma rede de símbolos cômodos (energia, força, etc.) com que veste o mundo; seu único objetivo seria então estabelecer entre esses símbolos relações constantes que permitam a ação. O problema de um conhecimento do mundo propriamente dito não se propunha. Não se podia mais afirmar um progresso desse conhecimento no decorrer da história da ciência: a história é um devir sem significado determinado, um acúmulo de tentativas e de erros. É portanto necessário renunciar a propor problemas à ciência para os quais não existe resposta. Enfim, a matemática é um vasto sistema formal de símbolos estabelecidos convencionalmente e de axiomas operatórios sem conteúdo limitativo: tudo aí é possível à nossa fantasia (Poincaré). A verdade matemática define-se ela própria segundo o referencial de axiomas escolhidos de início. Todas essas teses convergem para o ceticismo. [Lyotard]