Entre relações compreensíveis e relações causais existe uma diferença radical. Nós compreendemos, por exemplo, um ato a partir dos seus motivos, mas explicamos causalmente um movimento pela excitação nervosa. Compreendemos que as emoções engendrem estados de alma e que estes possam dar origem a certas esperanças, a representações imagináveis ou a temores, mas explicamos a aparição ou desaparecimento de tendências da memória, de fenômenos de fadiga ou de recuperação. Compreender um fenômeno psíquico, partindo de outro fenômeno, é apresentar também, como se diz, uma explicação psicológica. E os investigadores das ciências da natureza, que só se ocupam das percepções sensíveis e das explicações causais, experimentam uma justificada repulsa contra toda a explicação psicológica que pretenda, em uma matéria qualquer, substituir sua pesquisa. Estas relações compreensíveis entre fenômenos psíquicos são também denominadas causalidade interna, ficando assim sublinhado o abismo infranqueável que existe entre estas relações, só metaforicamente causais, e as relações causais propriamente ditas da causalidade externa.
Quando o objeto da pesquisa é o homem, a análise compreensiva e a análise causai explicativa se amalgamam de maneira bem complicada. Mas basta uma reflexão metodológica um pouco precisa para aí podermos ver de forma perfeitamente clara.
(Jaspers, Gesammelte Schriften zur Psychopathologie, p. 329)