Jakobson

Jakobson, Roman — Jakobson nasceu em Moscou no ano de 1896, filho de um engenheiro. Estudou no Instituto Lazarev de Línguas Orientais, na Universidade de Moscou e, após sua partida da Rússia, na Universidade de Praga, onde se doutora em 1930. Sofre influência de Saussure, Husserl e especialmente do linguista russo Baudouin de Courtenay, precursor da Fonologia. Acompanhou o cubismo e o futurismo russos e fez amizade com Maiakowsky e Khlebnikov. Foi influenciado por Braque, Picasso, Joyce e Stravinsky. Em 1915 torna-se um dos fundadores do Círculo Linguístico de Moscou, que teve papel determinante na gênese do chamado “formalismo russo”. Em 1920 vai para Praga. Publica em 1921 um livro sobre a obra poética de Khlebnikov e em 1922 um livro sobre o verso tcheco comparado com o verso russo. A partir daí Jakobson terá uma intuição acerca dos fonemas, que teorizará posteriormente. Paulatinamente abandona o formalismo e se passa, criando, para o estruturalismo. Afirma que cada série (o que se chama “sistema”, por exemplo, a literatura, a magia etc.) tem sua autonomia própria e que devem se estudar as leis internas de cada uma. Em 1926, juntamente com Trubetzkoy e Karschevsky, funda o Círculo Linguístico de Praga. Aí se fundamentará a fonologia, da qual Jakobson será o maior nome. Enquanto para Trubetzkoy o fonema é a unidade fonológica mínima da língua, para Jakobson o fonema só pode ser entendido como “feixe de traços distintivos”. Assim ele começará a se livrar do psicologismo de Courtenay. Em 1939, pelo fato de ser judeu, foge da invasão nazista e vai para a Dinamarca, onde lecionará até 1941. Depois vai para os Estados Unidos, onde de 1942 a 1946 é professor da “École Libre de Hautes Études”. De 1946 a 1950 é professor na Universidade da Columbia e de 1950 em diante professor de Línguas e Literaturas Eslavas e de Linguística Geral, na Universidade de Harvard. É também professor do Massachusetts Institute of Technology. Em 1968 esteve no Brasil, onde deu conferências em Brasília, Rio e São Paulo. Sua obra comporta mais de 500 títulos entre artigos, ensaios e livros. Domina uma extensa área do conhecimento — linguística, fabulário, mitologia, teoria literária, poética, antropologia, epistemologia das ciências humanas e sociais, psicologia e teoria da comunicação. Sua influência na Linguística Americana é incalculável. Participou da fundação de Círculo Linguístico de New York, e contribuiu decisivamente para criar uma nova geração de linguistas que se opuseram ao tradicional pragmatismo e empirismo correntes nas teorias norte-americanas.

Jakobson mostrou, decisivamente, que os resultados obtidos pelos engenheiros na aplicação da teoria matemática da informação poderiam ser usados na linguística. Desde que a análise linguística conseguiu dissolver o discurso verbal, contínuo, numa série finita de informações elementares (os fonemas) ambas as teorias lidam com os mesmos elementos de base. Mas apontou, com igual vigor, os perigos do uso mecânico da teoria da informação para a comunicação humana. A relação que os homens mantêm entre si implica na sua pertinência à cadeia do significante o que implica: a comunicação se estabeleceria através de um código comum aos interlocutores. “O código harmoniza o significante ao significado e o significado ao significante (…) É oportuno recordar que o código não se limita ao que os engenheiros denominam “o conteúdo puramente cognitivo do discurso”; de fato, a estratificação estilística dos símbolos lexicais, bem como as variações pretensamente “livres”, em sua constituição, como nas regras de suas combinações, são ‘previstas e preparadas’ pelo código”. “Isto não ocorre nas mensagens físicas que são interpretadas na significação da teoria que as elabora e analisa”. Desde que haja interpretação, emerge o princípio de complementaridade, promovendo a interação do instrumento, da observação e da coisa observada”. Todo ato de palavra põe em jogo uma mensagem e quatro elementos que lhe são ligados: a fonte, o receptor, o tema (topic) da mensagem e o código utilizado”. E o que caracteriza, por exemplo, a função poética é a mensagem. “O objeto próprio das pesquisas sobre a poesia não é senão a língua considerada do ponto de vista de uma função predominante, no caso o destacamento da mensagem como tal. Esta função poética, todavia, não está confinada à poesia. Há apenas uma diferença na hierarquia: esta função pode estar subordinada às outras funções ou, ao contrário, aparecer como a função central, organizadora da mensagem”.

O estabelecimento de uma teoria das linguagens onde a língua tem outras funções, — no exemplo acima, a função poética — não é da alçada da teoria matemática, afirma Jakobson. Ele fala da ” colaboração entre a linguística, muito particularmente o estudo da linguagem poética, de uma parte, e a análise matemática dos processos estocásticos de outra. A escola russa de métrica deve uma parte de seu renome internacional ao fato de que, há quarenta anos, pesquisadores como B. Tomachevsky, versados ao mesmo tempo nas matemáticas e na filosofia, souberam utilizar as cadeias de Markov para o estudo estatísticos do verso. Estes materiais, completados por uma análise linguística da estrutura do verso, deram, no começo dos anos 20, numa teoria do verso baseado no cálculo das probabilidades condicionais e das tensões entre antecipação e surpresa consideradas como valores rítmicos mensuráveis; o cálculo destas tensões, que batizamos de “esperas .frustradas”, fornecem indicações surpreendentes para o estabelecimento da métrica descritiva, histórica, comparativa e geral numa base científica”. Mas, se fixará na análise matemática após a redução significativa: “a linguagem deve ser estudada em toda a variedade de suas funções. Antes de abordar a funções poética, nos é necessário determinar qual é seu lugar entre as outras funções da linguagem”. (Chaim Katz – DCC)