Max Stirner (1806-1856), cujo nome real era Johann Gaspar Schmidt, era um hegeliano de esquerda. Foi ele o defensor de um individualismo extremado, que encontra no Eu, enquanto “único”, o fundamento de toda relação.
O único é uma resistência ante toda exterioridade, quer formada pelas criações do espírito, quer pelos “eus” alheios. O único não se submete a nenhuma categoria. O único é independente de toda categoria, de toda submissão. Por essa razão, Stirner combate toda espécie de coação, não só do Estado como até das próprias ideias. O único pode unir-se independentemente, num ato de liberdade aos outros únicos. Se não houver independência do único, não há liberdade. Só pelo único, pode a sociedade conhecer a liberdade e, em vez de uma união forçada dos indivíduos, pode dar-se a união livre e a universalidade da ideia em universalidade da unicidade. É muito comum julgar-se que Stirner seja um defensor do egoísmo utilitarista. No entanto, não é. O único, o eu de cada um, é livre pela liberdade dos outros únicos. A liberdade é indivisível e não conhece limites. Nenhuma liberdade limita outra liberdade. O que limita a liberdade é a opressão; não a liberdade. Uma sociedade de eus livres é uma sociedade livre. Considerar, porém, a sociedade como uma entidade que pode ser livre, ser eus livres, é cair nas velhas idolatrias.
O existencialismo tem, em muitos aspectos, muitas teses de Stirner, sem que os existencialistas o saibam. Stirner é dos filósofos menos conhecidos, mas, nem por isso deixa de ser uma das personalidades mais fortes e originais que surgiram na filosofia. É a grande figura do anarquismo individualista. [MFS]